28 de mar. de 2010

Destruição de Jerusalém


Não deve ter sido fácil para Jesus anunciar a futura destruição do Templo de Jerusalém, que veio a acontecer quarenta anos depois, no ano 70.

Na Bíblia hebraica, o Templo é chamado Beit Hamikdash, que significa «Casa Santa». E também Beit Adonai («Casa de Deus»).

E alguns observavam com orgulho que "o Templo estava ornado com belas pedras e preciosas ofertas" .

Por isso, foi com tristeza que Jesus lhes anunciou: ««Dias virão em que, de tudo o que estais a ver. não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído»".

Como é que tudo aconteceu? Foram anos difíceis, na Palestina, com muitas injustiças e violências por parte dos romanos contra osJudeus. Todavia, no ano 68. começou uma guerra civil entre os próprios Judeus.

O primeiro grande historiador da Igreja, Eusébio de Cesareia, refere que os cristãos, a determinado momento, fugiram da cidade, e refugiaram-se em Pella, na Transjordânia, desligando-se assim do destino nacional de Israel. A comunidade de Jerusalém tentou até ao fim manter o contacto com os Judeus e conseguir a sua conversão a Jesus Cristo. Mas, quando viu que nada mais podia fazer, abandonou Israel ao seu destino.

Até que, na Páscoa do ano 70, o general Tito, filho do novo imperador, Vespasiano, cercou Jerusalém, onde entrou algum tempo depois. No dia 8 de Agosto. foram incendiadas as portas do Templo, facilitando a entrada das tropas. no dia seguinte.

Tito que depois foi também Imperador, tinha a intenção de impedir a destruição do Templo. No entanto, no dia 10. um soldado atirou um archote a arder para uma das salas do Templo. Ainda tentaram apagar as chamas. mas a grande confusão que se gerou impediu que o incêndio fosse extinto.

No Templo, o lugar mais sagrado, separado por uma grande cortina, que não deixava entrar a luz, era o «Santo dos Santos», onde só podia entrar o Sumo-sacerdote, uma vez por ano, com um turíbulo fumegante de incenso.

Mas, antes de ter sido consumido pelo fogo, Tito e alguns dos seus oficiais conseguiram lá entrar, movidos por grande curiosidade. Antes ainda, passaram pelo «Santo», onde estava o candelabro de ouro de sete braços, que foi roubado, e figurou no cortejo triunfal de Tito, no seu regresso a Roma, no ano seguinte.

Entretanto, em Setembro desse ano, a cidade foi saqueada e arrasada; as muralhas foram abatidas, ficando de pé apenas algumas secções (como a que hoje se chama «Muro das Lamentações»).

Para os Judeus, a queda de Jerusalém representou o fim de uma era e um corte definitivo com o passado. Mas a cidade não foi esquecida, o que se deve em grande parte aos cristãos espalhados pelo mundo, que levaram consigo o anúncio de Jesus e também a memória da Cidade Santa, que nunca será apagada dos Evangelhos.

Mas qual foi a intenção de Jesus, ao anunciar, com grande espanto dos que O ouviam, a futura queda de Jerusalém? Antes de mais, Jesus quer advertir os discípulos para que não confundam a destruição do Templo de Jerusalém com o seu retorno no fim dos tempos, como Filho do Homem e Juiz da história. O fim deste mundo acontecerá um dia, certamente. mas numa hora marcada por Deus, e não pelos homens.

Simultaneamente, Jesus adverte também que, "antes de tudo isto", isto é, antes do fim do mundo, os seus discípulos serão muitas vezes incompreendidos e perseguidos, como Ele próprio o foi.

Mas, assim como Jesus virá a ser glorificado pelo Pai, também os discípulos serão ajudados e fortalecidos, para que sejam fiéis até ao fim. sem fraquejar nem desistir. Jesus conta com a nossa fidelidade e constância. Vemos, portanto, que, ao anunciar este e outros acontecimentos trágicos ou dolorosos - guerras, fomes. epidemias, terramotos - Jesus deseja fortalecer os seus discípulos, e animá-los a estarem preparados para tudo. Por isso nos diz. no final: "«Pela vossa perseverança, salvareis as vossas almas»".

Não podemos desistir, nem desanimar, nem afrouxar a nossa fé, nem diminuir a nossa entrega, mas confiar sempre, mesmo no meio de provas e dificuldades. Há momentos na história em que não há propriamente perseguições, mas um clima, envolvente de desinteresse ou descrença, que nos pode afectar e entristecer.

Se verificamos que se tornam habituais comportamentos que revelam uma grande desordem moral e ética - constantes desonestidades e fraudes, suspeitas de abusos, etc. - podemos ser tentados a pensar que não há nada a fazer, e que o melhor é desistir. Mas aqui podemos recordar, em primeiro lugar, o que dizia a profecia de Malaquias, que ouvimos na lª leitura. «Malaquias» significa: «o meu mensageiro»( 1, 1; 3, 1). Em nome de Deus, o profeta anuncia que "há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha", e "serão como a palha todos os soberbos e malfeitores".

O mal arderá facilmente, e dele não restará nada. Mas, para os que temem a Deus e O amam. "nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação".

Assim como o sol traz luz e calor à Terra e a todas as criaturas, assim também Deus dará aos que lhe são fiéis conforto, alegria e luz, que dissipará para sempre toda a escuridão.

Entretanto, podemos aplicar também ao momento presente o que dizia S. Paulo, na 2ª leitura. Não podemos ficar de braços cruzados, à espera da vinda de Jesus. É preciso continuar a trabalhar, com intensidade, competência e dedicação.

Mas, além disso, é preciso evangelizar, sem desânimo, é preciso anunciar Jesus e a sua Palavra, que é luz e sentido para a vida dos homens. Está a decorrer em França um grande inquérito promovido pelo jornal «La croix» sobre «os novos caminhos da fé desde agora até ao ano 2020». A uma das perguntas, sobre qual é a principal missão da Igreja, a grande maioria dos católicos franceses responde: «lutar contra a pobreza». E só um em cada três responde: «Dar a conhecer a mensagem de Cristo».


Pensando nas dificuldades e nas perseguições, Jesus dizia: "«Assim tereis ocasião de dar testemunho»". É preciso que esse testemunho continue a ser dado: se necessário, com o dom da vida, com o martírio, como muitos fizeram ao longo dos séculos.

E sempre com a alegria da fé, com a serenidade da esperança, com o vigor da caridade. É desse modo que aguardamos e antecipamos, na nossa vida corrente e na história do mundo, «a última vinda de Cristo Salvador».

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