31 de out. de 2008

Homem de Gelo


A descoberta da possível causa de morte do "Homem do Gelo" Ötzi, que provavelmente tombou após uma flechada nos Alpes há mais de 5.000 anos, foi só o último capítulo de uma série de descobertas fascinantes sobre a vida na Europa pré-histórica. E, embora não seja possível mais localizar o assassino do montanhês, dá para pelo menos avisar a família: cerca de 6% dos europeus modernos, cujo DNA tem parentesco com o de Ötzi.
Explica-se: pesquisadores italianos liderados por Franco Rollo conseguiram extrair material genético da múmia. Trata-se do mtDNA ou DNA mitocondrial, presente nas mitocôndrias, as usinas de energia das células. Esse tipo de DNA é uma mão na roda para as pesquisas com restos antigos de seres vivos porque é muito abundante no organismo e se preserva com mais facilidade. Além disso, ele é transmitido de forma ininterrupta de mãe para filho ou filha e não se mistura com o DNA paterno, permitindo o estabelecimento preciso de linhagens ao longo de milhares de anos de história.
Rollo e companhia obtiveram mtDNA do cadáver de Ötzi e viram que ele pertence ao chamado haplogrupo K, uma das principais linhagens maternas existentes na Europa, norte da África e Oriente Próximo. Mais especificamente, o Homem do Gelo parece ter pertencido ao subgrupo K1, típico do sul da Europa.
Estima-se que a mulher que deu origem ao haplogrupo tenha vivido na região há cerca de 16 mil anos. Dessa forma, todos os 6% dos europeus modernos portadores da linhagem são primos distantes, pelo lado da mãe, do Homem do Gelo. Aliás, por esse critério, ele também é aparentado aos judeus ashkenazim, do leste da Europa: quase metade deles descende de mulheres que carregam esse haplogrupo.


A análise de outros restos biológicos e minerais encontrados com Ötzi dão outras pistas sobre as circunstâncias de sua morte. O pólen de flores achado com ele indica que o homem morreu durante a primavera. Por outro lado, uma de suas refeições provavelmente incluiu pão integral, colhido no fim do verão. Isso significa que ele fazia parte de uma sociedade agrária que conseguia guardar os recursos de um ano para usar no outro.
O alto índice de cobre achado em seus cabelos, ao lado da machadinha desse metal que ele carregava, sugere que ele poderia estar envolvido na fabricação de objetos de cobre. Suas armas - além da machadinha, uma faca de pedra, arco e flechas - podem indicar que ele não era tão inocente assim em relação à sua morte. Especula-se que ele poderia ter estado envolvido no ataque a uma tribo vizinha, até porque alguém deve ter arrancado a haste da flecha que o acertou e matou. Traços do sangue de quatro outras pessoas apareceram em seu equipamento.

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